segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Todo amor é ridículo

Todo amor é ridículo.
É quando se mergulha fundo
no minúsculo mundo particular
e tudo vira motivo para brigar,
ou para amar
e se-exaltarem os detalhes...
Todo amor é pateta.
Quando se zanga, não presta;
quando se anima é festa;
e tudo é tema a se comemorar.
Todo amor é palhaço.
Você ri com só um abraço
e ainda conta os passos
até o amado voltar.
Mas é mais ridículo ainda
quem nunca foi pateta
nem nunca fez palhaçada.
Quem nunca amou
não sabe nada!

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

ficamos assim

fica o grito
pelo não-dito

fica o choro
pelo socorro
não dado

fica o futuro
no passado

fica a traição
pela falta de ação

fica o “não”
pelo excesso de “sim”

vamos combinar assim:
fico eu sem você
e você sem mim


foto de Alexandre Grand
modelo: Larissa Guitarrara

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Ponto Morto

A verdade é que eu te amo
mesmo que você não me queira,
por isso me engano
e me jogo inteira

Não vou viver aos pedaços,
se você não corresponde.
Mas onde guardo meu desejo?
Guardo eu a fome onde?

Tentei usá-la em outro corpo,
desloquei minha carência
não valeu a indecência:
acelerei em ponto morto.

foto de Alexandre Grand
modelo: Aline Chan

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Ressaca

Minhas manhãs são cansadas,
as noites, despertas,
as tardes molhadas
e a madrugada incerta.

Quem dorme comigo
e brinca de casinha?
Quem me chama pra cama
que não é minha?

Estou de ressaca,
não lembro de nada.
Dá-me logo essa faca,
manteiga e torrada.


O dia já vem,
raia o sol, chega a tarde.
É nessa hora que arde
a incerteza do tempo.

Pode deixar que eu invento.


foto de Alexandre Grand
Modelo: Helen Miranda

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

No canto

Sozinha,
no meu canto,
o pranto fica mais fácil
e fluido, profundo.
A verdade fica mais clara, mais cara,
e a tara mais evidente.
Eu sinto melhor a falta,
ponho a ausência em pauta,
conecto-me à essência
das palavras e da alma.
Não busco as palmas.
Almejo a decência,
a coerência com o que sou,
com o que restou de mim,
depois de você.



foto de Alexandre Grand
Modelo: Helen Miranda

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Nossa fome - declamando














Na edição 69 (bom número) do Terça em Movimento, além de dançar zouk (paixão total), declamei meu poema
"Nossa fome" Esse aqui ó:

NOSSA FOME

Por que dizer que é ele quem come
se a fome por ele também me consome?
Se ele quer me devorar, e me engole até minar o ar,
prefiro lamber, morder, e de tanto mastigar, beber

e aí então, sorvo-lhe o leite
e derramo meu sumo
rumo ao deleite total

Para ver fotos do Terça em Movimento, acesse meu Facebook ou Orkut. Para saber mais sobre o evento,
clique em www.tercaemmovimento.com.br

Quero te ver lá da próxima vez. Música e poesia na veia!

HIPOCRISIA - declamando

Estava eu lá no Terça em Movimento, quando esbarro com a Alda, essa querida da foto. "Caraca, Mari, vim declamar um poema seu". E o fez lindamente, o seguinte minipoema, junto com outro de Drummond. Meu Deus, que honra!

HIPOCRISIA
A verdade aí
todo mundo vê
na hora de falar
verdade, cadê você?

Conheça o Terça em Movimento no site: www.tercaemmovimento.com.br

domingo, 30 de agosto de 2009

B E I JO


Beijo de língua molhada,
safada, cremosa.
Beijo de boca gostosa, carnuda,
lábios chupando teu mel.

Beijo que me leva ao céu.

Mordida de leve - delícia! -
beijo terno ou com malícia,
beijo com fogo de quero mais.

Beijo que me deixa em paz.

Beijo, beijo, beijoooo...

Na face, pescoço, nuca,
“dizer segredos de liquidificador”.

Beijos calientes, tarados,
beijo com pressa, calor.

Beijo, ah o beijo...

Beijo de amor.

A mais perfeita tradução do desejo.

Tudo sempre começa e acaba no beijo.

*foto de Terry Richardson

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

This boy is trouble

This boy is trouble
Hear what I say
My heart is crumbled
And it’s not, so not ok

This boy is crazy
Look what I found
It’s not amazing
But he really fucked my mind

Let’s find a reason
Let me go out
I’m in a prison
And I cannot stop my mouth

Na verdade, nasceu como música...

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Porta-retrato

Prato sujo na pia
Copo molhando a madeira
Uma tela branca, azia
Mas eu não vejo maneira
De dizer o que ainda não foi dito
De escrever como quem dá um grito
Você não está mais no porta-retrato
É fato
Mas eu ainda vejo você

domingo, 16 de agosto de 2009

Palavras desconexas

Escrevo palavras

desconexas

na bagunça do meu quarto

Blues tocando

Televisão ao fundo gritando e o estômago doendo

Está na hora de comer, mas só penso em você


As palavras me faltam e meus pés estão

gelados

Coração vazio Espaço pra dor

Batidas insistentes Minha mente pirando

e o blues chorando ao fundo

Televisão comendo minha mente Penso vazio

palavras insistentes

coração gelado

pés com dor

...

E eu só grito você

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Com verso

Converso
com verso.
Te empresto
meu gesto
pra você ler
e absorver
Tiro retrato
do ato,
transformo
minha sina
em rima
antes
que vire brisa
Assim
a palavra
se eterniza
Sorria
isso é poesia

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Agora

Declamando este poema no "Terça em Movimento"






















Não quero ser tua
na rua,
quero ser nua
na tua,
no quarto.

Não te quero só meu.
Quero você e eu.

Não quero teu papo de amor,
ilusão,o que for.
Te quero de papo pro ar,
comigo a rolar pelo chão.

Não quero tua cara amarrada,
teu drama.Que nada!
Quero brigar na tua cama,
ser tua sacana, insana,
e não namorada ajuizada.
Não sou de fachada
e nem te preciso pra isso.

Te quero sorriso, desejo
e tudo o que sinto
quando te vejo.

Não quero tentar
ou fingir que é sério.
Vamos apenas gozar
esse nosso mistério.

E, se algum dia,
- quem sabe? -
o sentimento rolar,
deixa ele crescer
e a gente vê no que dá.

Wet

My baby let me wet
so wet that I could flow
into this feeling,
above the sea,
up to the sky…
He makes me high
And he always
makes me willing
to do it again.
That’s my intent.

Tentativa atrevida de poetar em inglês - se alguém detectar algum erro, por favor me avise!

sábado, 8 de agosto de 2009

Mordida

Perco o sono
não por você,
mas por mim.
Você não entende
que na minha insônia
é quando escrevo
e isso não me é
nenhum pouco ruim.

Só sabe quem escreve
e tem em si essa alegria,
afinal, eu fui mordida
pelo bicho-poesia.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Contando amigos

Não quero contar amigos na internet,
orkut, facebook, linkedins da vida.
Não preciso de seguidores virtuais,
de quantidade cibernética,
quero sim as qualidades reais.
Chega a ser uma questão de ética.
Como posso chamar amigo
aquele quase desconhecido?
Eu sigo o amigo que me liga
e não o que escreve e não liga pra mim.
Assim não preciso ficar sozinha
em frente ao computador,
acreditando que estou numa roda de bar.
Prezo muito minha solidão,
e quando uso o teclado é para isso.
Para me concentrar, trabalhar, escrever.
Nessas horas, não quero ninguém a se intrometer!
É tempo de ficar só.
O MSN desconcentra, atrapalha.
Para que falar tanta besteira nessa tralha?
Quando é pra compartilhar,
convivo ao vivo e a cores,
mostrando meus sorrisos,
expondo as dores,
entre goles de cerveja e cachaça.
Rindo e reclamando de nossos amores.
Quero sentir o cheiro das flores
e não receber esses mimos surreais
que nos mandam através de links.
Mais do que contar: “fiz mil amigos”,
quero comemorar, aí sim,
quando um amigo de verdade eu ganhar.
Eis um bom motivo para se vangloriar.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Minha cachaça

Te sorver como goles de cachaça.
Você desce queimando, aquecendo,
me entorpecendo com teu mel.
Sentindo o azedo de teu limão
que queima, sob o sol, meu coração.
Você é a minha mancha, minha gula,
meu vício, minha tara.
Vou aonde você for.
Tá na cara que eu te quero
e ando embriagada desse amor.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Chuva

Tudo começou com uma gota que me molhou sem querer. Quando vi, já sentia o arrepio. Conheci você. Outras gotas se juntaram à primeira. Um sorriso, um olhar, uma voz leve a sussurrar. E, de repente, caía a chuva. Era fugir ou se molhar.
A dor de um coração partido ou de uma alma depenada não é nada. Pior é não conhecer o remédio. Ou ter a receita e não engolir a pílula. Não tomar o xarope. E continuar tossindo até a rouquidão total. Silêncio.

sábado, 1 de agosto de 2009

Aflor

O amor é uma flor que se exibe aos poucos. Cujas pétalas se abrem uma a uma, e se espalmam como quem vai dar um abraço. Seu perfume inebria, a beleza encanta, e sua sede impressiona. Então precisa ser regado. E mesmo assim pode murchar...

sábado, 9 de maio de 2009

Tentativa

Não consigo parar
de pensar em você,
de imaginar como seria
eu e você.
A certeza de que você
também adoraria
só me consome.
Por isso choro,
toda vez que você some.

Quando nossos mundos
se encontraram,
eu estava em outra,
nem notei.
Mas depois,
sua ausência,
insistente,
marcou presença
aqui dentro
e eu gamei.

Hoje, sozinha,
lamento o passado
em que não te toquei,
mas não me arrependo
do futuro,
quando direi com orgulho:
pelo menos, tentei.

Na rua

Quero te comer na rua,
com raiva,
na pressa.
Não dá tempo de ficar nua.
Vamos logo
ao que interessa.
Não quero romantismo,
quero desejo puro e simples,
quero a força do tesão.
Não preciso do teu cinismo,
preciso de tua paixão.
Anseio sentir tua carne
e tua veia pulsando em mim
meu mar te molha e esquenta
e eu fico louca te tendo assim.

Antessala

Quero estar no vão do teu olhar,
no intervalo da tua fala,
na tua inspiração.
Quero ser tua antessala.

Quero ser teu ato-falho
e estar no inconsciente.
Não quero ser o que você pensa
e sim o que você sente.

Não quero ser teu objetivo,
tua missão, finalidade.
Quero me impregnar em tua veia
e ser pra sempre tua verdade.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Chega de revolta

Não vou mais te combater com revolta.
Vou fazer tua escolta e revidar com ternura
toda essa amargura que te faz brigar comigo,
consigo e com o mundo.
Pois meu amor é profundo
e quer te ajudar.

Se queremos mudar alguém ou um fato,
sejamos sensatos e não usemos o grito.
Repito: não usemos o grito.

Usemos o ato e o exemplo,
isentos de rancor e de ódio,
livres da vontade de vingança,
mas sim, repletos de amor.
Como este poema,
que agora te dou.

terça-feira, 10 de março de 2009

Muitos carnavais

Não quero só teu corpo
e alegorias.
Nem muito menos as fantasias,
purpurinas e maquiagem.
Quero todo o teu enredo,
e a letra do teu samba.
Também o batuque
do teu coração.
Quero teu ritmo,
e tua comissão de frente.
Quero tuas alas,
tuas falas e tua mente.
Quero ser teu mestre,
sala,
cozinha
quarto e banheiro.
Quero ser tua porta-bandeira.
Quero ser tua rainha
de bateria.
Quero toda tua harmonia
nota dez.
Mas não quero ficar na plateia,
nem no camarote ou na cadeira.
Também não quero só desfilar.
Vim para ficar
o ano todo
e por muitos carnavais.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Natural

A noite cai.
O sol se vai.
A chuva molha
e a folha chora
o orvalho da noite.

As flores morrem
e o vento corre,
varrendo a terra
e o caminho.

Eu sozinho
ainda choro,
mas não imploro
por sua volta.
Eu sei que o fim
é natural.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Sintomas

Doutor, tô doente
preciso melhorar.
A dor é insistente
e não tem hora pra acabar.
Vou relatar meus sintomas
e ouvir sua prescrição.
Por favor, tome nota
e preste muita atenção:
brilho nos olhos,
água na boca,
pressa no peito,
garganta rouca.
Queima a pele,
coçam as mãos,
bate ligeiro
o coração.
Sinto arrepio,
frio na barriga,
sua meu corpo,
arde a ferida.
Meus pés ficam gelados
e também saltitantes.
Tenho risos forçados
e manias irritantes.
Tenho raiva ainda
e por vezes alegria,
de repente vem uma tonteira
e me dá aquela azia.
A palavra fica presa
e queima sob a língua.
Noutras vezes ela dispara
e me sinto à míngua.
Tenho borboletas na barriga
e soluços constantes.
Me esqueço do passado.
Nunca senti isso antes!
E então, doutor amigo,
você pode me curar,
acho que estou amando,
que remédio devo tomar?

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Cena do crime

Ainda sinto teus dedos deslizando na minha pele
e tua voz ecoando em meus ouvidos.
Nas minhas roupas, o teu cheiro,
na minha boca, o teu mel.

Tuas palavras se repetem na minha mente
e no i-Pod ainda tocam as músicas que você gravou pra mim.
Os copos na pia continuam rubros, com os restos do nosso vinho,
e o cheiro da pizza ainda invade minhas narinas.

A cama está desfeita
e a banheira continua molhada,
e eu tenho a nítida impressão
de que você vai me abraçar a qualquer momento.

Mas estou totalmente enganada.
Você já se foi há muito tempo.
E eu ainda não consegui desfazer a cena do crime.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

O poeta não é triste

O poeta às vezes mente,
sentindo as dores como se fossem suas.
Ele mergulha no abismo por prazer
e deixa sua alma completamente nua.
O poeta não é necessariamente triste,
só insiste em sofrer para escrever
e, então, se libertar,
transformando sua lágrima
na palavra a rimar.
Mas se ele é deveras sensível,
exagerado,
- e até mesmo um coitado para os leigos -
também é extremamente meigo,
e, por vezes, demasiadamente otimista.
É do tipo que acredita em amor à primeira vista,
que saúda o sol a despertar o dia.
Então, ao ler os meus poemas,
não me olhe com cara de pena,
não me rotule de garota-problema.
Posso até ser mais triste que você em alguns dias,
mas enquanto você foge e nega sua dor,
cultivo meus sentimentos com ardor
e transformo tudo em poesia.
Quer maior alegria?